BRASIL:Campeão Mundial da ROBOCUP

Considerada a copa mundial de robôs, a RoboCup surgiu no final da década de 90, e seu objetivo é produzir uma seleção de robôs jogadores de futebol, que futuramente jogue contra a seleção campeã do mundo. Considerando que os melhores robôs humanoides ainda não existiam, este foi um objetivo bem ousado.

A RoboCup é modelada em dois grandes grupos que se diferenciam pelo nível escolar, sendo o universitário, chamado de Major, e o nível com alunos desde ensino fundamental até ensino médio, chamado de Junior. Na mesma competição existem as etapas nacionais e internacionais, sendo necessário conquistar na etapa nacional, uma vaga para ter direito de participar da internacional. Este formato proporciona todo ano uma troca de informações importante para formação acadêmica e profissional dos estudantes.

Em 2006 o Brasil registrou sua primeira participação oficial na RoboCup, evento surpreendente se contarmos que até hoje a robótica continua sendo uma área pouco praticada pelos brasileiros. Mas mesmo começando em 2006, o evento só tomou grandes proporções quatro anos depois, com muita garra dos participantes.

Uma das primeiras equipes a vir entrar no cenário brasileiro e internacional da RoboCup surgiu na Comphaus, que participou da sua primeira edição internacional em 2009, e desde então não parou mais de nos representar mundo afora. E mesmo entrando num campeonato bem desconhecido, já em 2009 a Comphaus, com a equipe Hipérion, trouxe para o Brasil a premiação do SuperTeam e de melhor programação, na categoria de dança.

Mais surpreendente após cada campeonato são as experiências adquiridas. E foi aproveitando todas as oportunidade que os integrantes, Wallace Souza e Renato Ferreira, da equipe Hipérion, orientados por Luis Rogério e Ricardo Hahn, levaram a Comphaus ao topo da RoboCup internacional em 2011 na Turquia, foram a primeira equipe brasileira a ganhar o prêmio de campeã da RoboCup Junior na categoria resgate, tornando-se também a única equipe brasileira a chegar ao topo da RoboCup, ganhando o principal prêmio em sua categoria. Pra conferir o belo resultado da equipe em 2011 é só acessar o link a seguir: (http://www.robocup2011.org/en/content.asp?PID={56FB3757-2D1A-4360-AA22-C922A56F5948}&PageFn=Results).

Experiências como esta vivida pela Hipérion não podemos deixar passar, ou melhor, temos que adquirir o máximo possível. E para reviver um pouco dessa experiência os integrantes Wallace e Renato, nos privilegiaram com a entrevista que podemos conferir logo abaixo.

 

– Considerando os vários outros projetos que fizeram, quanto o resgate de 2011 foi especial e o quanto vocês se esforçaram pra fazer este projeto?

Renato: Eu diria que foi especial por dois pontos. Primeiro, porque conseguimos juntar, na nossa equipe, habilidades não só diferentes como complementares, o que possibilitou que chegássemos a uma solução mais completa e a um processo de trabalho bem eficiente. Segundo, porque foi um projeto muito inovador, no sentido de resolver o desafio com estratégias alternativas e, aliado a isso, de ter sido um robô construído com um material (VEX) que não costuma ser aplicado ao desafio do Resgate.

 Justamente para atingir esses diferenciais, nos esforçamos bastante, trabalhando por muito tempo e rotineiramente refazendo soluções que podiam ser otimizadas até chegar ao projeto final que, na verdade, continuou sendo melhorado em todos os dias do campeonato. 

Wallace: Com certeza, de todos os projetos que executei até 2011, o desafio de resgate foi o que mais demandou de recursos e conhecimentos computacionais. Mesmo sendo um desafio minimalista ele exige muito dos projetistas. Novos mecanismos foram introduzidos para a resolução do problema. Sem dúvida foi um desafio bastante especial e importante para a minha formação. Pude participar de uma competição de alto nível. Nossa equipe era forte e tive a oportunidade de trabalhar com gente muito boa tanto em aspectos técnicos como pessoais.

 

– Vocês passaram a ver a competição diferente depois de ganhar a premiação? Como?

Renato: Acho que sim. Se, por um lado, antes a competição e, principalmente, o primeiro lugar era algo distante, como que inalcançável, que depois passou a ser algo que entendo como uma possibilidade, também foi possível ver a magnitude do trabalho necessário para se atingir esse resultado, bem como toda uma conjunção de fatores que, muitas vezes, vai além de simplesmente nossas habilidades. Assim, apesar de ter se tornado uma possibilidade concreta e provada ganhar, acho que a experiência me mostrou, em igual intensidade, o quão improvável esse tipo de acontecimento é.

Wallace: As pessoas são movidas por superações, estamos sempre buscando o topo. Ganhar o título de uma das principais categorias da RCJ sem duvida foi motivador. Depois da premiação passei imaginar como poderíamos entrar em categorias mais desafiadoras.

 

 – O que foi mais difícil até ser campeão internacional?

Renato: Provavelmente, a persistência, que pode ser ilustrada em duas situações distintas.

 Antes do evento, seria a persistência e a “coragem” para alterar o projeto e melhorá-lo mesmo quando ele já funciona, de modo a cobrir mais casos ou deixá-lo mais eficiente. Isso requer muito empenho, pois é fácil ignorar os testes mais patológicos e se manter com uma solução apenas razoável.

 Já no evento, existe a questão da persistência e da resistência física e mental mesmo; depois de alguns dias, é necessária muita disciplina para continuar indo dormir tarde e acordando cedo para melhorar o projeto, corrigir erros, analisar os desafios do dia, etc. É esgotante, mas necessário para resultados competitivos. Como o desafio não é 100% conhecido, não existe projeto 100% pronto. 

Wallace: O mais difícil foi ser criativo para implementar funcionalidades que refletissem em um diferencial no nosso robô. Por conta de limitação de recursos. Ao invés de acelerômetros usamos um pêndulo com um sensor de toque, a garra possuía um mecanismo diferenciado para nunca tomar a lata. A disposição dos sensores para detecto da linha foi elaborada para facilitar a detecção de curvas.

 

 – Vocês acham que ajudaram a robótica brasileira em algum aspecto?

Renato: Indiretamente, sim. Não só essa participação em particular, mas também todos os anos de trabalho com outras pessoas incríveis, certamente colaboraram para esse “ecossistema” que se forma entre os jovens estudiosos de tecnologia que, no futuro, constituirão o corpo brasileiro de robótica e de outras áreas parentes.

Wallace: Sem duvida sim, ainda mais se nossos resultados forem mais bem divulgados. Se a informação chegar, outros brasileiros verão que somos capazes, que um ramo tão sofisticado da tecnologia pode ser dominado por nós. Nosso resultado foi inédito e não tenho duvida que pode ser inspirador. Quando esse universo que é a robótica e suas competições estiverem mais difundidos acredito que se lembrarão desse começo.

 

– O que foi fundamental para a equipe Hipérion vencer?

Renato: Além dos pontos já mencionados, algo que certamente foi fundamental foi a herança que tivemos de projetos e experiências passadas. Além da nossa própria bagagem, acumulada com outras equipes e eventos, nossa abordagem foi inspirada por um projeto criado em 2010 para o mesmo desafio. Sem tais referências e experiências, teria sido muito difícil criar algo “correto” a partir do zero.

Wallace: Sem sombra de duvidas a garra dos competidores. A competição foi tensa do começo ao fim, ao coisas não deram muito certo em um primeiro momento. A superação ocorreu antes e durante a competição. Sem a dedicação de todos os membros, madrugadas mal dormidas para consertar bugs e dedicação plena nós não teríamos alcançado esse resultado.

 

 – Na opinião de vocês o que falta para o Brasil conquistar melhores resultados?

Renato: Maior diversidade e alcance no estudo e na prática da robótica e da computação. Podemos ter equipes muito dedicadas e alunos excepcionalmente talentosos, mas não se compete com países com três, cinco, dez vezes o “pool” de participantes.

 Com a popularização das competições e da robótica como parte do currículo escolar, sou otimista em relação a essa questão. Também é importante ressaltar que mesmo os resultados em competições não devem ser o objetivo final, e sim um indicador importante para outras variáveis, como a qualidade da nossa educação e a nossa preparação para a formação de mão-de-obra qualificada, tanto para o mercado quanto para a academia.

Wallace: Maior divulgação, mais investimentos e estimulo interno. Precisamos de competições nacionais incentivando a formação de equipes. Isso fará com que as que se destacarem tenham dito bastante experiência já dentro de seu país. Nosso resultado mostra claramente que somos capazes, mas infelizmente a realidade técnica de outros países é superior a nossa. Até mesmo países com condições de renda muito inferiores.

 

 – Se vocês pudessem dar uma dica para as equipes brasileiras qual seria?

Renato: Ser persistente, utilizar conhecimentos e experiências passadas de maneira, inteligente, e encarar cada competição como uma possibilidade de aprendizado. Acho que hoje o nível da competição brasileira já está maior do que nos anos em que participei, o que significa que focar apenas nos resultados será cada vez mais improdutivo. Focar no aprendizado, entretanto, só pode trazer vantagens, e é o que eu recomendaria.

Wallace: Acreditar em seu trabalho, mesmo quando parece estar dando tudo errado. Se não tivéssemos sido tão persistentes em 2011 eu não estaria escrevendo esse texto.

Com estas belas palavras de Renato Ferreira e Wallace Souza, percebemos o quanto este título proporcionou uma experiência incrível para quem presenciou qualquer parte do projeto. Nota-se também que pouco falaram da qualidade do robô, afinal obter um bom resultado pouco mostra a qualidade do robô, na verdade mostra um ótimo projeto, o qual, além de bem planejado, foi bem executado. Além do grande potencial que a equipe mostrou, também foi possível perceber que a Hipérion contribuiu e continua contribuindo para mudar a realidade da robótica no Brasil, afinal, dividir tais experiências como fizeram nesta matéria, inspira muita gente. E para matar um pouco da curiosidade de como foi a performance do robô da Hipérion podemos conferir dois vídeos feitos na competição nestes links [Vídeo 1] e [Vídeo 2].

Um bom reflexo da contribuição para o nosso país já veio em 2012, quando com apenas um ano após a vitória da Hipérion tivemos o maior numero de equipes brasileiras em uma edição internacional da RoboCup, edição que foi sediada no México. Mostrando que além de experiência, a Comphaus conseguiu trazer mais um desafio para diversas equipes brasileiras.

Este ano teremos uma RoboCup internacional no Brasil, evento desejados por muitos, e sem sombra de dúvidas uma boa oportunidade para as equipes brasileiras mostrarem seu potencial, e para provar que a vitória da Hipérion com seu belo projeto trouxe muita inspiração para o cenário da robótica brasileira.

 

Conselho Editorial: Luis Rogério, Lucas Cavalcanti, Renato Ferreira  e Ricardo Hahn.

Gestor Responsável das Edições de 2014: Lucas Cavalcanti

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